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Esse é um tema que vez por outra volta para as rodas de discussão; contudo, gostaria de propor uma perspectiva diferente.
Como abordei em meus últimos artigos, Deus ao criar Adão e Eva sonhou para eles um mundo em que o homem é ordenado a Deus: o Espírito comanda a inteligência e esta comanda a vontade.
Nós, em nossa busca da santidade, sabemos como é difícil esse ordenamento. Mas, intimamente, sabemos também que essa é a única via para pleitearmos, com a ajuda da graça, nosso lugar no céu.
Deus sonhou isso para nós individualmente, mas também para os casais e suas famílias. Felizes as famílias e seus filhos que colocam, no centro de suas vidas, a vontade de Deus.
Pensemos, então, que a sociedade é como que uma união de famílias, inicialmente vivendo em comunidades e evoluindo até o que conhecemos como nossas cidades. A pergunta direta seria, então: não deveriam elas também buscar colocar Deus no centro de suas existências e organizar-se com base em Suas leis, inscritas na lei natural?
A única resposta católica possível aqui é “sim”. Naturalmente que uma sociedade centrada em Deus é o melhor modelo. Criando leis com base nos ensinamentos de Deus, no decálogo, certamente teríamos uma sociedade justa, harmônica e feliz.
Contudo, pelas mãos de nossos primeiros pais, o pecado entrou no mundo. E com o pecado, tudo ficou bem mais complicado para todos nós. No mundo atual, a centralidade em Deus é tratada com escárnio, o mundo não quer mais viver em Cristo, mas nem sempre foi assim.
Após a vinda de Cristo, dos primeiros padres e de uma avalanche de santos e doutores da Igreja, a sociedade esboçou sua tentativa de uma vida voltada a Deus, uma cristandade. Nela, nossa Igreja teve papel central como magistério e depósito da fé dada por Cristo. Quem melhor poderia ajudar o homem e a sociedade a ordenar-se em Deus.
Mas a sociedade, impérios e Igreja são constituídos por homens imperfeitos, fracos na fé, na inteligência e na vontade. Além da fraqueza humana, o pecado original nos empurra com toda a força para o pleno afastamento de Deus, e não foi diferente aqui.
O homem preferiu outro caminho, ordenar-se em si mesmo. Em vez de colocar Deus no centro, colocou sua própria vontade; em vez de mergulhar nas escrituras e no conhecimento das leis de Deus, engatou a marcha ré da história e traçou uma rota de volta ao paganismo.
Nessa rota, vieram as revoltas. A científica, a protestante, a Francesa e tantas outras. Embalados por supostas boas intenções, de melhorar a vida do homem moderno, andamos para trás.
É justamente nessa onda que ganha força a ideia: “É preciso separar a Igreja do Estado”. Não que fosse nova, já se falava sobre isso muito antes. Em 1443, um assistente do papa Nicolau V (Albertti) já dizia: “A Deus deve ser deixado o cuidado das coisas divinas, as coisas humanas são da competência do juiz”.
Essa frase parece mais honesta. Deus deve cuidar apenas da alma, das coisas do mundo deve cuidar o homem. E é aqui que queremos colocar nosso olhar. A ideia original do Estado laico já vem com o tempero do humanismo iluminista.
Não se trata, portanto, de separar o Estado da Igreja, mas de separar o homem de Deus. E se somos homens na busca da santidade de fato, sabemos que isso não tem como dar certo.
Mas podem perguntar: o Estado pode professar ele próprio uma “fé oficial”? Ou ainda: como viver em sociedade se nem todos tem a mesma fé, se o Estado possui seu próprio credo?
Vou iniciar pela segunda: o Estado não pode subtrair das pessoas a sua liberdade de credo, qualquer credo. Isso faz parte do livre arbítrio dado por Deus e que não podemos lhes roubar, nem nós individualmente nem o Estado.
Para a primeira, faço uma provocação: O Estado já não possui um “credo próprio”?
O que se diz sobre a hipótese de um juiz de relevância nacional ser católico praticante? Qual o tratamento que recebem aqueles que pleiteiam cargos públicos e que professam com clareza sua fé em Cristo? São tratados com igualdade aos que professam outra fé?
Se a resposta é “não”, então o Estado que deveria se separar da fé mudou de opinião. Se inicialmente fingiu ser ateu, vemos agora que seu credo, na verdade, é anticristão. E sob esse credo, não há lugar para os imitadores de Cristo.
Mas Jesus nos lembrou de nosso lugar: estamos no mundo, mas não somos do mundo. É a nossa santidade, nossa oração e nosso apostolado que precisam ser luz para clarear as consciências e levá-las de volta para Deus.
Passados 500 anos, vimos no que o mundo se tornou sem Deus. É hora de trabalharmos para colocá-Lo de volta no centro.